No livro de Atos dos
Apóstolos, um dos modos de designar a Igreja como comunidade dos discípulos era
chamá-la de "o Caminho", e os discípulos, de "os do
Caminho". Portanto, tal designação é anterior ao tempo em que os cristãos
vieram a ser "oficialmente" nomeados "cristãos".
Paulo é o apóstolo em razão de quem essa designação de "o Caminho"
mais aparece em Atos. No início, ele perseguia "os do Caminho"; ou,
como ele também diz, "... para levar presos os que eram do Caminho",
ou ainda "... este Caminho, ao qual chamais de seita...".
Ora, a designação "o Caminho" é, no meu modo de ver, aquela que melhor
expressa o espírito do Evangelho como movimento humano no mundo. E por quê?
Primeiro, porque Jesus é o Caminho.
Segundo, porque o chamado da fé é "hebreu", e ser hebreu é ser alguém
do caminho, da viagem, da peregrinação, como foi Abraão, o hebreu – o Pai da
Fé. "Hebreu" vem da raiz da palavra que expressa o ato de cruzar, de
atravessar, de seguir em frente.
E terceiro, porque, historicamente, um dos maiores problemas da Igreja foi o
fato de que ela deixou o mundo e, assim, deixou de ser Caminho no chão da
Terra.
Por conta disso, logo a
palavra "igreja" passou a designar algo geográfico, fixo, estático e
imutável, e perdeu assim sua vocação caminhante e, por essa via, tornou-se cada
vez mais uma estrutura que vive de sua própria institucionalização.
No entanto, a
designação "o Caminho" propõe que a Igreja seja a comunidade dos que
se reúnem para adorar, discernir a Palavra e ajudar-se mutuamente, mas que não
se fecham num ambiente e nem chamam o ambiente físico de "Igreja",
posto que Igreja, de fato, é um movimento de discípulos que andam no Caminho
enquanto trilham a Fé no chão desse mundo, como gente boa de Deus na Terra!
Portanto, a referência
paulina aos "do Caminho" é, provavelmente, a melhor designação para
traduzir o espírito livre, desinstalado, peregrino, ajustável aos tempos e aos
desafios da jornada que o Evangelho propõe aos discípulos de Jesus.
O Caminho em Cristo,
conforme as narrativas dos evangelhos, é mais que um lugar ou um "clube de
iluminados". Trata-se de um movimento de subversão existencial do Reino de
Deus na Terra.
Por esta razão, o
Caminho da Graça é feito de gente desafiada a assumir seu papel de sal que se
dissolve e some para poder salgar; de fermento que se imiscui na massa e
desaparece a fim de subverter com a vida do reino; de pequena semente que se
torna grande e generosa árvore que a todos acolhe; de Casa do Pai para os
Filhos Pródigos e também para os Irmãos Mais Velhos para que se alegrem com a
Graça do Perdão; e um ambiente espiritual no qual até o "administrador
infiel" possa se "consertar", e, assim, tentar fazer o melhor do
que restou.
No Caminho, todos são
irmãos e ninguém é juiz do outro. Assim, ajudam-se, mas não se esmagam uns aos
outros, posto que no Caminho todos caem e se levantam; todos se enfraquecem,
mas não desanimam; todos são humanos, e, com humanidade são tratados, conforme
o Dogma do Amor.
E o mesmo Dogma não
permite abusos de uns para com os outros, posto que o Caminho é de Graça e
Perdão; e não a espinhenta vereda da disputa, da supremacia e do abuso; pois a
Graça jamais será a Graxa dos descomprometidos!
Jesus nunca quis fundar
uma religião. Essa foi a razão pela qual nada foi mais danoso para a genuína fé
do que terem-na feito tornar-se uma religião entre as demais.
Seguir Jesus é aceitar
o seu modo de ser, é assumir como vida as Suas palavras e é dar testemunho do
Evangelho não como uma "estratégia de evangelização" (proselitismo e
marketing), mas como a natural vocação da Vida em Cristo.
O Caminho
da Graça para Todos.
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