quarta-feira, 21 de maio de 2014

A comunidade dos "do Caminho"

quarta-feira, maio 21, 2014 Posted by: Caminho em Big Field., 0 comments


No livro de Atos dos Apóstolos, um dos modos de designar a Igreja como comunidade dos discípulos era chamá-la de "o Caminho", e os discípulos, de "os do Caminho". Portanto, tal designação é anterior ao tempo em que os cristãos vieram a ser "oficialmente" nomeados "cristãos".

Paulo é o apóstolo em razão de quem essa designação de "o Caminho" mais aparece em Atos. No início, ele perseguia "os do Caminho"; ou, como ele também diz, "... para levar presos os que eram do Caminho", ou ainda "... este Caminho, ao qual chamais de seita...".

Ora, a designação "o Caminho" é, no meu modo de ver, aquela que melhor expressa o espírito do Evangelho como movimento humano no mundo. E por quê?

Primeiro, porque Jesus é o Caminho.

Segundo, porque o chamado da fé é "hebreu", e ser hebreu é ser alguém do caminho, da viagem, da peregrinação, como foi Abraão, o hebreu – o Pai da Fé. "Hebreu" vem da raiz da palavra que expressa o ato de cruzar, de atravessar, de seguir em frente.

E terceiro, porque, historicamente, um dos maiores problemas da Igreja foi o fato de que ela deixou o mundo e, assim, deixou de ser Caminho no chão da Terra.

Por conta disso, logo a palavra "igreja" passou a designar algo geográfico, fixo, estático e imutável, e perdeu assim sua vocação caminhante e, por essa via, tornou-se cada vez mais uma estrutura que vive de sua própria institucionalização.

No entanto, a designação "o Caminho" propõe que a Igreja seja a comunidade dos que se reúnem para adorar, discernir a Palavra e ajudar-se mutuamente, mas que não se fecham num ambiente e nem chamam o ambiente físico de "Igreja", posto que Igreja, de fato, é um movimento de discípulos que andam no Caminho enquanto trilham a Fé no chão desse mundo, como gente boa de Deus na Terra!

Portanto, a referência paulina aos "do Caminho" é, provavelmente, a melhor designação para traduzir o espírito livre, desinstalado, peregrino, ajustável aos tempos e aos desafios da jornada que o Evangelho propõe aos discípulos de Jesus.

O Caminho em Cristo, conforme as narrativas dos evangelhos, é mais que um lugar ou um "clube de iluminados". Trata-se de um movimento de subversão existencial do Reino de Deus na Terra.

Por esta razão, o Caminho da Graça é feito de gente desafiada a assumir seu papel de sal que se dissolve e some para poder salgar; de fermento que se imiscui na massa e desaparece a fim de subverter com a vida do reino; de pequena semente que se torna grande e generosa árvore que a todos acolhe; de Casa do Pai para os Filhos Pródigos e também para os Irmãos Mais Velhos para que se alegrem com a Graça do Perdão; e um ambiente espiritual no qual até o "administrador infiel" possa se "consertar", e, assim, tentar fazer o melhor do que restou.

No Caminho, todos são irmãos e ninguém é juiz do outro. Assim, ajudam-se, mas não se esmagam uns aos outros, posto que no Caminho todos caem e se levantam; todos se enfraquecem, mas não desanimam; todos são humanos, e, com humanidade são tratados, conforme o Dogma do Amor.

E o mesmo Dogma não permite abusos de uns para com os outros, posto que o Caminho é de Graça e Perdão; e não a espinhenta vereda da disputa, da supremacia e do abuso; pois a Graça jamais será a Graxa dos descomprometidos!

Jesus nunca quis fundar uma religião. Essa foi a razão pela qual nada foi mais danoso para a genuína fé do que terem-na feito tornar-se uma religião entre as demais.

Seguir Jesus é aceitar o seu modo de ser, é assumir como vida as Suas palavras e é dar testemunho do Evangelho não como uma "estratégia de evangelização" (proselitismo e marketing), mas como a natural vocação da Vida em Cristo.

O Caminho da Graça para Todos.


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