Por: José Barbosa Junior
E, numa tarde de sábado, Jesus passeava por entre as ruas da cidade
quando de repente alguns carros pararam perto dele.
Dos dois carros de trás desceram alguns homens que cercaram o carro da
frente e aos socos e pontapés tiraram de lá o casal que ocupava o carro.
Não tinham como negar. Estavam saindo do motel. O
adultério estava consumado, e o pior, o homem que estava com a mulher era o
melhor amigo do marido traído.
Na mesma hora juntaram-se algumas pessoas com seus smartphones e câmeras
para gravar aquele momento e logo depois viralizar na internet. Um vídeo com
uma mulher "vagabunda" pega em adultério sempre faz sucesso, pensaram
os agora "cineastas".
Quando perceberam que Jesus estava ali perto e sabendo da fama de
conciliador que tinha, quiseram encostá-lo na parede: "Senhor, essa
vagabunda foi pega em adultério com o melhor amigo do marido, e pra piorar,
disse que tinha saído pra fazer a unha... pela lei da internet, ela merece ser
execrada e julgada publicamente, tendo seu vídeo espalhado por todos os cantos
para que seja de um vez por todas envergonhada e arrasada. Ela é uma piranha,
Mestre!"
A esta altura dos fatos, já surgiam, aqui e ali, os propagadores do
vídeo que destruiria a vida daquela mulher.
Jesus, virando-se para eles, calmamente disse: "Aquele de vocês que
nunca desejou uma outra mulher ou um outro homem, ou até mesmo aqueles de vocês
que se consideram santos o suficiente para destruírem a vida de uma pessoa que
nem conhecem direito, que sejam os primeiros a compartilharem o vídeo em suas
páginas e em suas redes sociais..."
E, virando as costas para Jesus, apertaram com vontade o
"enviar" de seus celulares, fazendo com que a "vadia"
(mesmo que ali houvesse um outro homem que estava com ela, mas que em momento
algum foi atacado em sua "moral") experimentasse todo machismo e
raiva de uma sociedade moralista, perversa e hipócrita... e saíram de lá, rindo
daquele profeta bobo que achava que esse discursinho de "não fazer ao
outro o que não gostaria que fizessem com você" surtiria efeito.
Pouco antes de sair, Jesus ainda conseguiu olhar nos olhos de Fabíola,
que a esta altura já tinha apanhado do marido com a anuência de todos os
presentes (inclusive do "homem" que a possuíra momentos antes). Ao
percebê-la envergonhada, e com lágrimas nos olhos, a abraçou e disse com sua
voz mansa e inconfundível: "Se eles te condenam, eu não... Agora vá... e
não deixem que façam da sua vida um inferno."
E Jesus, chorando, voltou a andar pelas ruas da cidade...
Sozinho!
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