Conta-se uma lenda de um grande incêndio na floresta. Essa floresta servia de lar para milhares de animais, aves e insetos. Quando o incêndio começou, os animais começaram a fugir, cada um preocupado com sua própria vida. Por mais que os macacos gostassem de ficar cada um no seu galho, neste momento queriam estar bem longe dali.
De fato, a vaca louca ficou por achar ser fogo.
A galinha gritava:
- Popóóóóó! (Cada um por si e Deus por todos!)
Todos corriam em disparada. Quer dizer, nem todos. O Beija-flor ficou. Esse pássaro, amante da natureza, não queria ver aquele lugar extinto; e correu em direção ao riacho, (eu sei, pássaro não corre, voa) colocou a maior quantidade de água que seu bico poderia carregar e voltou à ‘floresta sitiada’. Lá disparou um jato d’água em direção ao fogo.
– A quantidade de água em mililitros não sei ao certo. O certo que evaporou antes mesmo de chegar ao fogo.
O Beija-flor sabia que o Sabiá sabia assobiar, mas a essa hora estava longe, não poderia ajudar. Voltou ao riacho às pressas e as rejas retornava ao fogo. Prosseguiu muitas vezes esse ritual.
- Claro que lembro! Disse o Beija-flor.
Beija-flor tinha uma missão. Não a recebeu de ninguém. O chamado vinha de dentro. Ele sabia que era responsável pela floresta. Dela recebeu tanta alegria, era sua vez de retribuir. Em seus olhos derramavam lágrimas. Lágrimas de tristezas.
– O Beija-flor tem coração, pequeno, mas tem. Embora beije flor, era apaixonado por toda a floresta.
Que coisa terrível estava acontecendo! Foram os ‘bicho-gente’ que botaram o fogo na mata, isso tudo por seus ideais capitalistas. Mas o Beija-flor (a partir de agora chamado de Beija) tinha um ideal maior. Por acreditar fielmente, não parava um segundo.
Claro que nessa ‘altura do campeonato’ sua atitude chamou a atenção da bicharada. Esses que corriam, pararam e se puseram a observá-lo.
Os comentários surgiram.
Uns críticos:
- Que ridículo. Só está querendo aparecer.
Outros:
- Porque ele não desiste? Não está vendo que nunca apagará o fogo?
Alguns o admiravam:
- Um dia quero ser igual ao Beija-flor.
Claro que Beija nem prestou atenção nesses comentários. Tinha um fogo para apagar. Não poderia perder tempo. Beija(va) a água e cuspia no fogo. Beija(va) a esperança. Beija(va) a vida. Não se pode perder tempo com debates e nem para provar a necessidade de se apagar o fogo. Ele estava lá. Não precisava fazer muita força para vê-lo.
Nesse instante surgiram alguns partidos. Tinha de tudo. Os que acreditavam que a chuva cedo ou mais tarde cairia; aqueles outros que diziam “Tem coisas mais importantes do que isso, por exemplo, salvar nossas peles” e por último, os que crêem poder apagar o fogo (O problema é como?). Assim dentro desse grupo surgiram vários subgrupos.
Às vezes as coisas são tão simples, mas como os animais gostavam de complicar! O fogo disseminava. Beija-flor trabalhava intensamente. Os animais discutiam. E as horas? Elas passavam – Lembra que hora de bicho é diferente da de gente!?
Até que houve uma queda nessa rotina na mata. O Beija-flor não voltou. Mas o fogo continuou e a discussão prosseguiu. E Isso continua até os dias de hoje.
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