terça-feira, 25 de setembro de 2012
Eu sou o Clube, a Doutrina e a Igreja
terça-feira, setembro 25, 2012 Posted by: Caminho em Big Field., 0 comments
A ESCOLHA ENTRE O CLUBE E O CAMINHO
Há
dois modelos básicos de igreja. Há os chamados para fora... e os chamados para
dentro.
Igreja,
de acordo com Jesus, é comunhão de dois ou três... em Seu Nome... e em qualquer
lugar... E mais: podem ser quaisquer dois ou três... e não apenas um certo tipo
de dois ou três... conforme os manequins da religião.
Igreja,
de acordo com Jesus, é algo que acontece como encontro com Deus, com o próximo
e com a vida... no ‘caminho’ do Caminho.
Prova
disso é que o tema igreja aparece no Evangelho quando Jesus e Seus discípulos
estavam no ‘caminho’ para Cesareia de Filipe: um lugar ‘pagão’ naqueles dias.
Assim,
tem-se o tema igreja tratado no ‘caminho’ e em direção à ‘paganidade’ do mundo.
Para
Jesus o lugar onde melhor e mais propriamente se deve buscar o discípulo é nas
portas do inferno, no meio do mundo! Não posso conceber, lendo o Evangelho, que
Jesus sonhasse com aquilo que depois nós chamamos de ‘igreja’.
Digo
isto porque tanto não vejo Jesus tentando criar uma comunidade fixa e fechada,
como também não percebo em Seu espírito qualquer interesse nesse tipo de
reclusão comunitária.
No
Evangelho o que existe em supremacia é a Palavra, que tanto estava encarnada em
Jesus como era o centro de Sua ação. No Evangelho nenhuma igreja teria espaço,
posto que não acompanharia o ritmo do reino e de seu caminhar hebreu e
dinâmico.
Jesus
escolhe doze para ensinar... não para que eles fiquem juntos. Ao contrário, a
ordem final é para ir... Enfim... são treinado a espalhar sementes, a salgar, a
levar amor, a caminhar em bondade, e a sobreviver com dignidade no caminho, com
todos os seus perigos e possibilidade (Lc 10).
No
caminho há de tudo. Jesus é o Caminho em movimento nos caminhos da existência.
E Seus discípulos são acompanhantes sem hierarquia entre eles.
No
mais... as multidões..., às quais Jesus organiza apenas uma vez, e isto a fim
de multiplicar pães. De resto... elas vem e vão... ficam ou não... voltam ou
nunca mais aparecem... gostam ou se escandalizam... maravilham-se ou acham duro
o discurso...
Mas
Jesus nada faz para mudar isto. Ele apenas segue e ensina a Palavra, enquanto
cura os que encontra.
Ao
contrário..., vemos Jesus dificultando as coisas muitas vezes, outras mandando
o cara para casa, outras dizendo que era preciso deixar tudo, outras convidando
a quem não quer ir...; ou mesmo perguntando: Vocês querem ir embora?
Não!
Jesus não pretendia que Seus discípulos fossem mais irmãos uns dos outros do
que de todos os homens.
Não!
Jesus não esperava que o sal da terra se confinasse a quatro dignas e geladas
paredes de maldade.
Não!
Jesus não deseja tirar ninguém do mundo, da vida, da sociedade, da terra... mas
apenas deseja que sejamos livres do mal.
Não!
Jesus não disse “Eu sou o Clube, a Doutrina e a Igreja; e ninguém vem ao Pai se
não por mim”.
Assim,
na igreja dos chamados para fora, caminha-se e encontra-se com o irmão de fé e
também com o próximo que não tem fé... e todos se trata com amor e simplicidade.
Em
Jesus não há qualquer tentativa de criar um ambiente protegido e de reclusão; e
nem tampouco a intenção de criar uma democracia espiritual, na qual a média dos
pensamentos seja a lei relacional.
Em
Jesus o discípulo é apenas um homem que ganhou o entendimento do Reino e vive
como seu cidadão, não numa ‘comunidade paralela’, mas no mundo real.
Na
igreja de Jesus cada um diz se é ou não é...; e ninguém tem o poder de dizer
diferente... Afinal, por que a parábola do Joio e do Trigo não teria valor na
‘igreja’? Na igreja de Jesus... pode-se ir e vir... entrar e sair... e sempre
encontrar pastagem.
O
outro modo de ser igreja é, todavia, aquele que prevaleceu na história. Nele as
pessoas são chamadas para dentro, para deixar o mundo, para só considerarem
‘irmãos’ os membros do ‘clube santo’, e a não buscarem relacionamentos fora de
tal ambiente.
A
comunidade de Jerusalém tentou viver assim e adoeceu!
Claro!
Quem
fica sadio vivendo num mundo tão uniforme e clonado?
Quem
fica sadio não conhecendo a variedade da condição humana?
Quem
fica sadio se apenas existe numa pequena câmara de repetições humanas viciadas?
Sim,
quem pode preservar um mínimo de identidade vivendo em tais circunstâncias?
Nesse sapatinho de japonesa?
É
obvio que os discípulos precisam se reunir..., e juntos devem ter prazer em
aprender a Palavra e crescer em fé e ajuda mutua. Todavia, tal ajuntamento é
apenas uma estação do caminho, não o seu projeto; é um oásis, não o objetivo da
jornada; é um tempo, não é o tempo todo; é uma ajuda, não é a vida.
De
minha parte quero apenas ver os discípulos de Jesus crescendo em entendimento e
vida com Deus, em amizade e respeito uns para com os outros, em saúde
relacional na vida, e com liberdade de escolha, conforme a consciência de cada
um.
O
‘ajuntamento’ que chamamos igreja deve ser apenas esse encontro, essa estação,
esse lugar de bom animo e adoração.
O
ideal é que tais encontros gerem amizade clara e livre, e que pela amizade as
pessoas se ajudem; mas não apenas em razão de um certo espírito
maçônico-comunitário, conforme se vê... ou porque se deu alguma contribuição
financeira no lugar.
A
verdadeira igreja não tem sócios... Tem apenas gente boa de Deus... e que se reúne
e ajuda a manter a tudo aquilo que promove a Palavra na Terra.
Tenho
pavor de comunidades!
Elas
são ameninantes para a alma, geram vilas de doenças, produzem inibição dos
processos de individuação, e tornam os homens eternos imaturos... sempre com
medo do mundo e da vida.
Sem
falar que em todo mundo muito pequeno, como o da ‘comunidade’, as doenças
tendem a aumentar... e a ganhar caras e contornos de perversidade travestida de
piedade...
É
o que eu chamo de peidade!
Fica
todo mundo querendo se meter onde não foi chamado... É um inferno!
No
‘Caminho da Graça’ estou tentando levar as pessoas a esse entendimento e a essa
maturidade, e não tenho nenhuma outra vontade interior de fazer daquilo mais
uma ‘igreja’.
Quero
ver pessoas que sejam ‘gente boa de Deus’; gente descomplicada e desviciada de
‘igreja’; gente que aprenda o bem do Evangelho primeiro para si e em si
mesmas..., e apenas depois para fora...
Portanto,
não se trata de um movimento ‘sacerdotal’, intimista e fechado; mas sim de um
andar profético, aberto e continuo...
Lá
não se busca a média da compreensão... Ao contrário, lá se força a
compreensão...
Lá
só fica quem realmente quer... e não tento jamais dissuadir ninguém ao
contrario de sua vontade.
Não
há complicação. Tudo é muito simples.
E
quem não achar que serve, está sempre livre a achar o que lhe agrada em
qualquer lugar.
Ou
não foi assim que Jesus tratou a tudo no caminho?
A
escolha que se tem que fazer é essa: ou se quer uma ‘comunidade’ que existe em
função de si mesma, e para dentro; ou se tem um ‘caminho de discípulos’, e que
se encontram, mas que não fazem do encontro a razão de ser da vida.
A
meu ver, no dia em que prevalecer o modelo do ‘caminho’, conforme Jesus no
Evangelho, a vida vai arrebentar em flores e frutos entre nós e no mundo à
nossa volta; e as pessoas serão sempre muito mais humanas, descomplicadas e
sadias... Mas se continuar a prevalecer o modelo ‘comunitário de Jerusalém’...
que de Jerusalém tem apenas o intimismo e o espírito sectário... não se terá
jamais nada além do que se teve nesses últimos dois mil anos; ou seja: esse
lugar de doentes presunçosos a que chamamos de ‘igreja’.
Para
isto... para esta coisa... não tenho mais nenhuma energia para doar. Mas para a
vida como caminho, ofereço meu coração mais jovem do que nunca.
Caio
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