Godwin é um menino prodígio.
É meio MacGyver. Daquela série antiga em que o cara reformava um avião com fio-dental e fazia bombas com chicletes.
Certa vez quando o gerador quebrou, Godwin que fica responsável por buscar a gasolina e fazer a eletricidade funcionar aqui, ficou por horas com um pedacinho de pau, um farolete fraco e uma faquinha, tentando consertar.
Foi vencido.
Mas e as vezes que venceu?
O menino desentorta pregos enquanto me ajuda a pendurar as lâmpadas recarregáveis em cada quarto.
Monta e desmonta as tomadas.
Sobe ao telhado no breu, para puxar o fio que está com mal contato.
Ajuda a remendar canos.
Na sala de brinquedos, Godwin está quieto num canto. Parecia estar concentrado com sua brincadeira, mas de repente, se levanta e vem todo sorridente: Uncle, consertei o rádio. Me diz ele mostrando um rádio de brinquedo que já não funcionava. Mas Godwin deu jeito.
E num gesto muito carinhoso, colocou o rádio entre as pernas de um menor que estava admirado com o barulho.
Ele é pau para toda obra. Eu e ele entramos carregando uma geladeira e enquanto eu estava olhando para as prateleiras, Godwin já varria o chão pois entramos com os pés cheios de areia.
Ele é tímido. De olhar sereno e silencioso. Fala pouco.
Olho para ele e só penso que poderíamos dar a ele uma oportunidade de aprender alguma coisa! Um curso técnico!
Hoje, eu estava aqui, digitando no laptop e quando olho pro lado, está Godwin parado na janela, me observando. Admirado com o computador. Em silêncio. No mundo da curiosidade.
Quer aprender violão, me cobra todo o dia pela sua aula.
Quer ler. Me cobra o dia inteiro para que abra a biblioteca.
Quer ajudar. Ronda o dia todo procurando como.
E quando viu a câmera fotográfica endoidou.
Tirei-a do pescoço e entreguei à ele e disse: “Godwin, confio em você. Não deixa ela quebrar senão ficamos sem fotos.”
Segurei na mão dele segurando a câmera e disse: “Você aperta aqui e faz assim, assado… vai treinando, daqui uma hora quero ver as fotos. Amanhã nós treinamos mais.”
Godwin é um voluntário.
É um menino.
É um sofrido rapazinho.
Que não tem ninguém por ele, a não ser estranhos, vindos do outro lado do mar.
Faz poucos dias, abro a porta do meu quarto e dou de cara com Godwin esperando.
- Tio, você vai na cidade? – perguntou.
- Vou, você precisa de alguma coisa? – respondi, pensando que ele precisava do dinheiro da gasolina para o gerador, que ele vai buscar todo dia.
- É que eu queria muito comer pão – ele disse e abaixou a cabeça com vergonha.
Amanhã, amanhã mesmo, Godwin será adulto.
Lutaremos para dar à ele um futuro profissional. Lutaremos para dar a ele uma família.
Lutaremos para vê-lo sempre sorrindo. Não sabemos se conseguiremos realizar todas estas coisas, mas, darei a ele a certeza de que ele tem um amigo para sempre.
Daqueles mais chegados que irmãos.
Se você ajudar, juntos poderemos dar ao Godwin e aos demais meninos, uma chance numa escola técnica.
Você topa?
Eu já topei.
E tenho certeza que ele também.
Gito Wendel
Esit-Eket, Akwa Ibom, Nigeria
#juntospodemosmais
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