Por Hermes C.
Fernandes
Filhos de uma nobre família de cristãos,
os gêmeos árabes Cosme e Damião nasceram por volta do ano 260 d.C. Desde muito
jovens manifestaram um enorme talento para a medicina, profissão a qual se
dedicaram após estudarem e diplomarem-se na Síria.
Amavam a Cristo com todo o fervor de
suas almas, e decidiram dedicar suas vidas ao serviço do amor. Por isso, não
cobravam pelas consultas e atendimentos que prestavam, o que lhes rendeu o
apelido de "anárgiros", ou seja, “aqueles que são inimigos do
dinheiro" ou "que não são comprados por dinheiro". A riqueza que
almejavam era fazer de sua arte médica também o seu ministério para o bem de
todos. Inspirados no amor de Cristo, usavam a fé aliada aos conhecimentos
científicos para atenuar a dor dos enfermos e inválidos. Ao invocarem o nome de
Jesus, muitos eram curados, alguns à beira da morte. Até animais eram sarados,
pois entendiam que “toda a criação aguarda, com ardente expectativa, pela
manifestação da glória de Deus em Seus filhos” (Rm. 8:18:19).
Seu testemunho de amor produziu inúmeras
conversões ao evangelho da graça, chamando a atenção das autoridades. Durante a
perseguição promovida pelo Imperador romano Diocleciano, por volta do ano 300,
Cosme e Damião foram presos, levados a tribunal e acusados de se entregarem à
prática de feitiçarias e de usar meios diabólicos para disfarçar as curas que
realizavam. Ao serem questionados quanto as suas atividades, eles responderam:
"Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo, pela força do Seu
poder".
Diocleciano odiava os cristãos porque
eles eram fiéis a Jesus Cristo e se recusavam a adorar ídolos e esculturas
consideradas sagradas pelo Império Romano.Eles conheceram os princípios da fé
cristã desde sua infância, e por isso recusaram-se a adorar os deuses pagãos,
apesar da imposição e das ameaças do império. Diante do governador Lísias,
ousaram declarar que aqueles falsos deuses não tinham poder algum sobre eles, e
que só adorariam o Deus Único, Criador do Céu e da Terra. Mantiveram a Palavra
do testemunho de Cristo, impressionando a todos por seu Amor, fidelidade e
entrega a Jesus.
Por não renunciarem aos princípios de
Deus, sofreram terríveis torturas. Mas mesmo torturados, jamais negaram a fé.
Em 303, o Imperador decretou que fossem condenados à morte na Egéia. Os dois
irmãos foram colocados no paredão para que quatro soldados os atravessassem com
flechas, mas eles resistiram às pedradas e flechadas. Os militares foram
obrigados a recorrer à espada para a decapitação, honra reservada só aos
cidadãos romanos. E assim, Cosme e Damião foram martirizados.
Ironicamente, cem anos depois de
morrerem por não se render à idolatria, seus restos mortais começaram a ser
alvo de veneração, bem como as imagens esculpidas em sua homenagem. Dois
séculos após sua morte, por volta do ano 530, o Imperador Justiniano ficou
gravemente doente e deu ordens para que se construísse, em Constantinopla, uma
grandiosa igreja em honra de Cosme e Damião. A fama dos gêmeos também correu no
Ocidente, a partir de Roma, por causa da basílica dedicada a eles, construída a
pedido do papa Félix IV, entre 526 e 530. A solenidade de consagração da basílica
ocorreu num dia 26 de setembro e assim, Cosme e Damião passaram a ser
festejados pela igreja católica nesta data.
Os nomes de Cosme e Damião são
pronunciados inúmeras vezes, todos os dias, no mundo inteiro. Até hoje, os
gêmeos são cultuados em toda a Europa, especialmente na Itália, França, Espanha
e Portugal. Além disso, são venerados como padroeiros dos médicos e farmacêuticos,
e por causa da sua simplicidade e inocência também são invocados como
protetores das crianças. Por isso, na festa dedicada a eles, é costume
distribuir balas e doces para as crianças.
Aqui no Brasil, devido ao sincretismo, a
devoção trazida pelos portugueses misturou-se com o culto aos orixás-meninos
(Ibejis ou Erês) da tradição africana yorubá. Cosme e Damião, os santos gêmeos,
são tão populares quanto Santo Antônio e São João. São amplamente festejados na
Bahia e no Rio de Janeiro, onde sua festa ganha a rua e adentra aos barracões
de candomblé e terreiros de umbanda, no dia 27 de setembro, quando crianças
saem aos bandos, pedindo doces em nome dos santos.
Uma característica marcante na Umbanda e
no Candomblé em relação às representações de Cosme e Damião, é que junto aos
dois santos católicos aparece uma criancinha vestida igual a eles. Essa criança
é chamada de Doúm ou Idowu, que personifica as crianças com idade de até sete
anos de idade, sendo considerado o protetor das crianças nessa faixa de idade.
Na festa de tradição afro, enquanto as crianças se deliciam com as iguarias
oferecidas às entidades, os adultos ficam em volta entoando cânticos aos
orixás.
Mesmo não compactuando com a devoção que
lhes é prestada, não se deve ignorar ou desprezar o testemunho de Cosme e
Damião, muito menos demonizá-los como fazem alguns.
Os médicos gêmeos jamais se deram aos
ídolos, tampouco praticaram magia ou ocultismo, embora tenham sido acusados de
fazê-lo. Pelo contrário, foram cristãos fiéis até o fim, amando o Senhor sem
medida e manifestando Seu amor no serviço ao próximo. Tal testemunho deve
continuar a nos inspirar, como tem inspirado a tantas gerações.
P.S.: Uma pergunta recorrente quando o assunto é "Cosme e
Damião" é se um cristão pode comer balas e doces oferecidos a eles. Vou
deixar que Paulo, o apóstolo dos gentios, nos responda através de uma paráfrase
que fiz do texto em que trata do assunto "Comidas sacrificadas aos
ídolos":
“Ora,
no tocante aos doces oferecidos a Cosme e Damião, já temos conhecimento
suficiente. Mas devo salientar que o conhecimento incha, enquanto o amor
edifica. E, se alguém pensa que já sabe alguma coisa, ainda não sabe como
convém saber. O importante é amar a Deus e ser conhecido por ele. Logo, quanto
ao comer comidas oferecidas a qualquer entidade, sabemos que o ídolo em si nada
é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só. Ainda que haja alguns que se
apresentem como deuses (ou santos), sejam em igrejas ou religiões de quaisquer
matizes, inclusive africanas ou orientais, todavia, para nós, há um só Deus, o
Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo
qual são todas as coisas, e nós por intermédio dele. Mas nem todos têm este
conhecimento; porque alguns até agora comem coisas consagradas em homenagem aos
ídolos, e por terem consciência fraca, ficam contaminados. Ora, comer ou deixar
de comer não faz qualquer diferença em nossa relação com Deus. Mas devemos ter
cuidado para que essa liberdade não sirva de escândalo para os de mente fraca.
Porque, se alguém te flagrar correndo atrás de doces consagrados (visto que
tens conhecimento da verdade), não será a consciência do que é fraco induzida a
comer também (mas sem ter o mesmo conhecimento)? E assim, pelo teu conhecimento
prejudicará o irmão fraco, pelo qual Cristo morreu. Ora, pecando assim contra
os irmãos, e ferindo a sua fraca consciência, pecais contra Cristo. Por isso,
se comer tais doces escandalizar a meu irmão, nunca mais os comerei, para que
meu irmão não se escandalize.” 1 Coríntios 8:1-13
Fonte: http://www.hermesfernandes.com/
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